maio 05, 2013

criado: terça-feira, 10 de Maio de 2011, 0:09:07 // o ofício de ser tempestade






Onde estão as palavras quando não sabemos delas?
A saudade engole-as.


É que todas as pessoas foram ficando, enquanto o mundo girava em torno de si mesmo, numa elipse perfeita entre Marte e Vénus, rodopiando em conjunto com as esferas mágicas em torno do Sol (perdoem-me a falta de nomes). Os allstar rotos também, pendurados num cabo de electricidade, ao sabor do acaso do vento. Os putos passearam em rotas comuns. Viagens de luz rápida e ofuscante. A velocidade é sentida no momento em que a janela do carro é aberta, por um ser em explosão de cor e som, até tocar com as mãos no asfalto.

Todos esses bichos, nas tristezas e alegrias, apatias e ansiedades, paz & inquietação, rindo ou gritando ofensas. E quedas, ascensões. Os pés levitando do solo, se a sinfonia marítima nos puxa a visão aos aquários, que só se vislumbram na crista das ondas trespassadas pela luz graciosa de verões prematuros. Peixinhos na transparência das ondas, entendes?
Milhentas canções, milhentos rasgos de poesia na poeira das pestanas. Um cigarro à janela, numa manhã fria de nevoeiro e ficar com os joelhos encostados no peito, quando o corpo já não se sente no chão dos invernos. A primavera sorrindo com flores no cabelo. Os olhos esborratados de azul-turquesa, na maresia de moscatel fácil de supermercado ou encontrado entre montes verdes e cafés em terriolas.
Velhas que se benzem em minimercados à passagem de meninas na ressaca do descortinar da realidade ou da percepção.

As máquinas de escrever saltitando nas calçadas do Bairro Alto, na areia do Algarve, na ribeirinha do Porto, nas planícies do Alentejo, no jardim édeniano da Ericeira, pela Serra da Estrela fora, em matos diversos e em varandas encaixotadas. Estranhos encontros a vida inteira, com muitos cigarros partilhados & bebedeiras míticas & clichés, repetindo-se até à exaustão. Papámos ganzas, ácidos, cocaína e md, alcoólicos ou junkies ocasionais, pintores, poetas, músicos, políticos, fomos todos actores o caminho inteiro e fomos tudo o que conhecemos e demos a conhecer.

Fazemos parte da geração que conta tostões nos bolsos furados e partilha, mandando para o caralho a merda da apatia e os velhos hábitos quando o ser grita BASTA, guardando as beatas em todo o lado menos no chão.

Brincamos aos gatos tanto na cidade como no campo. Procurámos o entendimento da criação, do ser, tentámos ser bichos humanos.

Fomos crescendo devagarinho até rebentarmos as barreiras todas, todas, todas. Sem estandartes, mas estendendo-nos à arte, fosse qual fosse a sua forma.
é que “a forma é definida pela medida das suas possibilidades”.

Rebolámos em todo o tipo de solo. Fodemos uns com os outros, sozinhos até ao êxtase dos amantes ou do que não sabíamos definir. Vimos virtude nos platonismos, nos epicurismos, nos existencialismos brejeiros cheios de chocolate nos dedos ou torres de bolacha Maria e sal, dissemos que isso do Deus estar morto já não era novidade nenhuma e saudámos o que se mostrou sem nome dentro de cada um de nós. Tentámos o equilíbrio, caminhando no estendal onde secam as vivências de todos os retalhos passados.

Lambemos as poças de lágrimas das Alices do caminho. Seguimos todos os coelhos e mascarámo-nos de todas as formas e mais algumas. Fumámos cigarros em banheiras, em pontes, em viadutos abandonados, em comboios em movimento.

Olhámos de frente o sol ancestral, os pontos luminescentes em rodopio esquizofrénico, vulgo céu estrelado, batalhões de nuvens brancas e fofas, modeladas, douradas e lilases esfiapadas a baunilha ou explodindo de electricidade em relampejos.

Amámos todas as pedras do caminho, todos os bichos, todos os santos e putas sem excepção.
Ficaram sempre registadas as passagens. Cada um de nós tratou disso à sua maneira e fomos abrindo cada vez mais portas à mudança. Saudámos de pé cada amor, mesmo que fosse pianíssimo e lunático. Saudámos cada despedida e reencontro, mesmo na memória tremida. Saudámos cada amigo desconhecido.

Fomos ou somos a família sem nome.

Sabendo que iríamos aguentar de pé os tremores que abalam o mundo, desde que explodimos nos ventres das nossas mães.

abril 20, 2013









o sonho será maior que a realidade imaginada.

essa é a sentença final do romance.

março 29, 2013

(Toulouse - Lautrec)


a sonolência partilhada.
mais do que a carne.
o respirar.

a falta.
sente-se.  



março 04, 2013




no quarto estende-se uma linha de roupa pendurada.
as caixas foram cobertas com tecidos, tweed e um floral.
as pinturas e desenhos colaram-se na parede.
os cristais e pedras estão colocados nos sítios certos.
assim como os livros, cadernos e mantas.
uma caneca laranja com restos de chá de limão a meu lado.
o batimento cardíaco mal se ouve.
o fumo inunda o espaço exterior. avermelhado de nuvens em fogo.
a luz é branca no interior e desfoca a visão da parede.
a lâmpada do candeeiro de cabeceira fundiu-se.
o trabalho acumula-se sob o estirador e sob a cabeça.
a probreza de trocos fura-me os bolsos.
despenteio o cabelo crescente.
sufoco as mãos solitárias. uma na outra.
pesa-me no peito o vazio do lado de lá.
nenhuma resposta vinda da vida estrangeira que abandonei quando decidi vir.
tenho insónias fodidas e os horários trocados.
ainda assim procura-se o sorriso e bolachas de aveia ou maçãs.
o sol virá novamente.
o vento nada mais é que o barulho na copa das árvores.

sonhei contigo.
depois foi como disseste um dia.
acordei assim "aos pedaços"

sem saber se será tarde para me redimir da fenda de onde o amor brota
e que não quero fechar.

outubro 20, 2012



dentro da dobra da memória há um mundo que é teu.
Caixas de cartão a fazer de mobília onde cristais estendem a luz pela brancura da parede. um compasso desenha sombras elípticas dentro do doce tremelique da paixão que se manifesta na tua mão direita. um raio atira-se dos céus e fulmina-te os olhos. suspiros arrastam a folhagem nocturna de amendoeiras, figueiras e um canavial. insectos metálicos sobem pelas pedras preciosas de uma lagoa, onde existe uma aldeia enterrada. repete-se o ambiente para que a escrita flua espectralmente. um índio albino estende-te caixas de respirar melhor. recordas-te das máscaras e luzes das caixas de música na cidade. pedes a um taxista que te leve a despedir os olhos de um fado bêbedo. uma ressaca descomunal de drogas impedem-te por um dia à combinação de sequências lógicas no adeus e isso faz toda a diferença no que toca a abraços. escolhe bem o agora. porque depois, os corpos dançam num espaço etéreo, que se confunde com um sapateado assoalhado de madeira, suor, som e frescos de querubins no tecto. todos os dias reparas na arquitectura romana que pouco mudou desde os templos gregos. desenhas andorinhas nas asas brancas de cadernos negros. se desconstróis os passos é para subires todos os dias uma escadaria até ao quarto da residência onde se encontram pincéis, folhas e caixas de cartão a fazer de mobília. simplicidade e um voo até canais holandeses. os supermercados são arrumações de víveres para o apocalipse. gargalhada silenciosa. porquê o sarcasmo e a timidez? são pensamentos que se escapam como arrotos e outros gases subterrâneos.
a rapariga imaginada dobra-se num  poço de vitrais. espera. mas vai.
abre as narinas e respira um inverno gelado. ele vem aí. sabes disso. são aquelas luzes brilhantes, cravadas no céu negro e limpo da noite, que to dizem.

dentro da dobra da memória há um mundo que é teu. só precisas de abrir a cortina sem auxilio de barbitúricos.


setembro 16, 2012


"Perseguir as Estrelas
No aquário dos peixes vermelhos
Acabar "

Pensamento Profundo nº 1 - A Elegância do Ouriço