outubro 20, 2012



dentro da dobra da memória há um mundo que é teu.
Caixas de cartão a fazer de mobília onde cristais estendem a luz pela brancura da parede. um compasso desenha sombras elípticas dentro do doce tremelique da paixão que se manifesta na tua mão direita. um raio atira-se dos céus e fulmina-te os olhos. suspiros arrastam a folhagem nocturna de amendoeiras, figueiras e um canavial. insectos metálicos sobem pelas pedras preciosas de uma lagoa, onde existe uma aldeia enterrada. repete-se o ambiente para que a escrita flua espectralmente. um índio albino estende-te caixas de respirar melhor. recordas-te das máscaras e luzes das caixas de música na cidade. pedes a um taxista que te leve a despedir os olhos de um fado bêbedo. uma ressaca descomunal de drogas impedem-te por um dia à combinação de sequências lógicas no adeus e isso faz toda a diferença no que toca a abraços. escolhe bem o agora. porque depois, os corpos dançam num espaço etéreo, que se confunde com um sapateado assoalhado de madeira, suor, som e frescos de querubins no tecto. todos os dias reparas na arquitectura romana que pouco mudou desde os templos gregos. desenhas andorinhas nas asas brancas de cadernos negros. se desconstróis os passos é para subires todos os dias uma escadaria até ao quarto da residência onde se encontram pincéis, folhas e caixas de cartão a fazer de mobília. simplicidade e um voo até canais holandeses. os supermercados são arrumações de víveres para o apocalipse. gargalhada silenciosa. porquê o sarcasmo e a timidez? são pensamentos que se escapam como arrotos e outros gases subterrâneos.
a rapariga imaginada dobra-se num  poço de vitrais. espera. mas vai.
abre as narinas e respira um inverno gelado. ele vem aí. sabes disso. são aquelas luzes brilhantes, cravadas no céu negro e limpo da noite, que to dizem.

dentro da dobra da memória há um mundo que é teu. só precisas de abrir a cortina sem auxilio de barbitúricos.


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